
Numa definição curta e simples, Caetano Veloso disse "A Tropicália foi o avesso da Bossa Nova".
Esse movimento liderado por Caetano e Gilberto Gil e apoiado pelo compositor Tom Zé, os letristas Torquato Neto e Capinam, o maestro e arranjador Rogério Duprat, o trio Mutantes e as cantoras Gal Costa e Nara Leão, tinha em vista, acima de tudo, criticar (verbo preferido daqueles que tinham coragem para isso durante a ditadura).
Ao contrário da Bossa Nova que dominava a MPB, o Tropicalismo não queria sintetizar um estilo e sim, universalizar a música brasileira, misturando os nossos batuques (não é por acaso que a música Tropicália composta por Caetano em 1967 começa com uma leitura da Carta de Per
o Vaz de Caminha ao som do batuque percusionista indígena) ao rock, com seus amplificadores e guitarras elétricas.
o Vaz de Caminha ao som do batuque percusionista indígena) ao rock, com seus amplificadores e guitarras elétricas.Por falar na canção Tropicália, ela e todo o movimento foi denominado assim graças ao fotógrafo e produtor de cinema Luís Carlos Barreto, o qual quando a ouviu, lembrou da obra que Hélio Oiticica tinha exposto no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Abaixo Oiticica tenta definir sua obra-ambiência:
"Tropicália é um tipo de labirinto fechado, sem caminhos alternativos para a saída. Quando você entra nele não há teto, nos espaços que o espectador circula há elementos táteis. Na medida em que você vai avançando, os sons que você ouve vindos de fora (vozes e todos tipos de som) se revelam como tendo sua origem num receptor de televisão que está colocado ali perto. É extraordinário a percepção das imagens que se tem: quando você se senta numa banqueta, as imagens de televisão chegam como se estivessem sentadas à sua volta. Eu quis, neste penetrável, fazer um exercício de imagens em todas as suas formas: as estruturas geométricas fixas (se parece com uma casa japonesa-mondrianesca), as imagens táteis, a sensação de caminhada em terreno difícil (no chão ha três tipos de coisas: sacos com areia, areia, cascalho e tapetes na parte escura, numa sucessão de uma parte a outra) e a imagem televisiva.(...)
Eu criei um tipo de cena tropical, com plantas, areias, cascalhos. O problema da imagem é colocado aqui objetivamente, mas desde que é um problema universal, eu também propus este problema num contexto que é tipicamente nacional, tropical e brasileiro. Eu quis acentuar a nova linguagem com elementos brasileiros, numa tentativa extremamente ambiciosa em criar uma linguagem que poderia ser nossa, característica nossa, na qual poderíamos nos colocar contra uma imagética internacional da pop e pop art, na qual uma boa parte dos nossos artistas tem sucumbido. "
A Trópicália de Caetano foi influenciada pelo filme Terra em Transe (Glauber Rocha), a peça O Rei da Vela na montagem do Teatro Oficina (Oswald de Andrade) e nas conversas que tinha com Gil, Guilherme Araújo - seu empresário -, com a irmã Maria Bethânia, Torquato Neto e o artista gráfico Rogério Duarte. O resultado foi a idéia de um Brasil traçado a partir dos seus contrastes.
O Tropicalismo revolucionou totalmente, não só a música, mas trouxe irreverência para a TV (Programa do Chacrinha e, posteriormente, o programa Divino, Maravilhoso de Gil e Caetano na TV Tupi), para o modo se vestir , para a moral, o sexo e o comportamento, exaltando o que era fora dos padrões. Para marcar o manifesto de tudo isso foi lançado um LP (sim, ainda não existia CD) Tropicália ou Panis et Circensis, coordenado por Caetano Veloso.
Esse movimento rendeu repressão, não só do governo, mas também da linha dura universitária . Seus defensores ganharam muitas vaias, bananas, tomates e até ovos durante um debate na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo e no III Festival Internacional da Canção. Uma das melhores respostas foi dada por Caetano durante o Festival, já citado, e que acabou tornando-se um happening: "Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder?" "Nós tivemos coragem de entrar em todas as estruturas e sair de todas. E vocês? Se vocês em política forem como são em estética, estamos feitos. E, quanto ao júri, é muito simpático mas é incompente".
O Tropicalismo foi abafado, mas não morto, com a instituição do AI Nº 5 no governo de Costa e Silva, que repreendia de vez os ativistas e intelectuais, ocasionando a detenção de Caetano e Gil no dia 27 de dezembro de 1968 e posteriormente, o exílio deles, cumprido em Londres. (Gil antes de ser exilado compôs Aquele Abraço).
O movimento não foi morto, porque deixou herança para seus decendentes diretos e indiretos, como Ney Matogrosso, Chico Science com o movimento Mangue Bit na década de 90 e até mesmo nomes tradicionais da MPB mostraram algumas características da Tropicália em seus trabalhos, por exemplo, Chico Buarque e Elis Regina.
Músicas Famosas desse movimento:
- Alegria, Alegria (Caetano Veloso)
- Domingo no Parque (Gilberto Gil)
- É Proibido Proibir (Caetano Veloso)
- Questão de Ordem (Gilberto Gil)
- Aquele Abraço (Gilberto Gil)
*Lembrando que as músicas eram apresentadas em festivais como os da TV Record.
Pronto, é isso. Alô, alô leitores, aquele abraço!
Jéssica Bem :)
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